Escalada móvel no Frey | Odiamos amar a Argentina | Rio Caminhadas.com.br

Escalada móvel no Frey | Odiamos amar a Argentina

Fotos e vídeos: Claudio Pereira, Mauro Chiara e Claudney Neves

Era 25 de dezembro (2009). Dia de Natal! O calor no Rio de Janeiro estava infernal. Com toda a força que essa palavra significa. Desisti de alguns convites para escalar e fiquei em casa. Troquei e-mails com o Claudio sobre o reveillon que passaríamos no Cipó e, logo depois, passamos a conversar pelo msn. Ele estava procurando algum lugar para passar o carnaval. O principal requisito era que as passagens para lá fossem baratas. No Carnaval ninguém vai pra Bolívia, ele iria, e eu também 🙂 Quando estávamos nos despedindo ele disse que já tinha marcado uma outra viagem para a Argentina. Perguntei a época, seria no final de semana seguinte ao que voltaríamos do Cipó. Achei muito em cima, fiz a contabilidade, consultei os búzios e o site da Gol e aceitei esse convite também. Nesse dia eu estava muito fácil, acho que foi o espírito natalino. Combinamos uma viagem pra Venezuela logo depois, mas demorou para fechar essa. Uma semana 🙂 Foi assim que um dia estupidamente quente no Rio de Janeiro me fez viajar por três países da América do Sul.

 

Júlio “Francês”, um grande amigo, com quem conheci algumas das minhas primeiras escaladas no Ceará, havia feito há pouco tempo esse roteiro e falou maravilhas do lugar, quando nos encontramos na Bahia. Pedi algumas dicas e fui me empolgando.

Mauro já estava no grupo. Combinamos detalhes sobre quem levaria o que, hospedagem, ponto de encontro na Argentina e quando subiríamos para o Vale do Frey. Ele e Claudio iriam de avião até Bariloche. Eu rodaria 20 h de ônibus a partir de Buenos Aires para encontrá-los.

 

8 Jan – Sexta-feira

Embarquei às 6h da manhã aqui no Rio, depois de uma conexão em São Paulo, cheguei antes das 10h da manhã na capital Argentina. Mesmo com o câmbio tradicionalmente ruim do aeroporto, troquei meus reais por pesos lá mesmo. Estava indo para a rodoviária e talvez não sobrasse tempo para procurar uma casa de câmbio com uma cotação melhor. R$ 1 estava valendo 1,70 pesos.

Do aeroporto para a rodoviária – são 35 km – você tem três opções: ônibus, por 2 pesos, demora quase duas horas; táxi, muito mais rápido, mas muito mais caro, 141 pesos; ônibus especiais da empresa Tienda Leon. Optei por este último. Na saída do desembarque você compra o bilhete por 45 pesos. O ônibus só para no centro de Buenos Aires, onde uma van completa a viagem e te deixa na entrada da rodoviária. Terminal Retiro, ou apenas Retiro, como eles conhecem.

Chegando ao Retiro, comprei a passagem para Bariloche (245 pesos) pela empresa Via Bariloche. Saída prevista para às 13h40 h. No site da Omni Líneas você encontra os horários e preços dos diversos tipos de ônibus. Do leito ao comum.

A fome me disse “oi”. Fui procurar algum lugar para comer e percebi que Brasil e Argentina são nações irmãs quando se trata de comida em rodoviárias. Cara e ruim. O que você encontra na rodoviária de Buenos Aires são várias lanchonetes, com cardápio padronizado e preços iguais. Não dá para escolher uma comida diferente. Onde quer que você vá se sentar sempre vai encontrar os mesmos pratos. Mas na falta de algo melhor, dá pra se virar com isso mesmo.

Fui para a plataforma de embarque, fiquei ali olhando o movimento, e como ainda faltava algum tempo para entrar no ônibus, resolvi comprar logo a passagem Bariloche-Buenos Aires (260 pesos). No guichê, calculamos em um belo portunhol qual o melhor horário de saída, para que não corresse o risco de perder o vôo de volta para o Brasil.

Voltei para a plataforma de embarque, o ônibus chegou e partiu no horário previsto. Ao meu lado sentou uma argentina, que foi uma companhia agradável. Enquanto as plantações de soja e girassol passavam pela janela, nós conversávamos sobre nome de comidas e se ela entendia o que os atores de Dois Filhos de Francisco falavam. Justamente o filme brasileiro que escolheram para passar o tempo durante a viagem. O ônibus tinha tv com vídeo e serviço de bordo, comidinhas ao estilo avião, servidas por um rodomoço 🙂

Amanda e Jorginha também estavam lá 🙂

As unhas combinavam com o casaco

 

O sol começou a se pôr quase às10 h da noite, mesmo horário em que o rodomoço trouxe nosso jantar. Os raios dourados que se misturavam ao amarelo dos girassóis foram sumindo, o restinho de noite foi terminando e o sono chegou.

 

9 Jan – Sábado

As plantações do dia anterior se transformaram em montanhas, lagos e picos nevados, que anunciavam nossa chegada à Bariloche, o que aconteceu por volta das 9h30 da manhã. Despedi-me da companheira de viagem e peguei um táxi (17 pesos) para a pousada que Claudio havia reservado ainda no Brasil (45 pesos, com café da manhã), através do Hostel Bookers. Pouco tempo depois cheguei à Gente del Sur. Um albergue simplezinho, aconchegante e com bom serviço. Gostei. Paulo me recebeu muito bem e indicou o quarto onde ficaríamos. Depois de 20 h de viagem, meu corpo pediu um banho e uma cama. Realizei o primeiro desejo, mas quando estava saindo do banheiro Claudio e Mauro apareceram 🙁 O sono ficou pra depois. Saímos para comprar alguns materiais que ainda faltavam na mochila. Rodamos o centro de Bariloche inteiro e fomos almoçar. Depois disso, Claudio foi buscar a barraca que tinha encomendado.

Plantação de girassóis

Chegando…

 

Muitas lojas fecham para a siesta por volta das 13h e só reabrem às 16h30. Deviam incorporar essa tradição aqui no Brasil.

Acompanhei Mauro até uma casa de câmbio, onde encontramos o Marcos. Um brasileiro que estava voltando para Buenos Aires, pois não aguentou o tempo ruim que estava fazendo no Frey. Com o nariz descascado e os lábios rachados, ele contava como sofreu no Vale. A história foi tão sinistra que pensei se valia mesmo à pena subirmos 🙁 Uma frase chamou minha atenção: “Se aqui tá assim, imagina lá em cima!”. Em Bariloche ventava e fazia um frio que estava começando a incomodar.

Claudio nos encontrou. Marcos nos acompanhou por mais algumas compras e nos despedimos. Voltamos para o Gente del Sur. Nosso quarto, que era só nosso, havia sido ocupado por mais três meninas. Duas israelenses, que conversavam em uma língua alienígena e uma terceira, com quem começamos a conversar em espanhol até Claudio perguntar se ela era brasileira, ela disse que sim 🙂 A paulista estava rodando pela América do Sul há algum tempo, estava ali para fazer alguns roteiros turistões e aproveitar o friozinho do lugar. Ficamos ali mais um pouco, conversando com ela e ouvindo as alienígenas israelenses, até que saímos novamente. Fomos ao supermercado comprar comida para os dias de acampamento. A conversa com Marcos não nos convenceu, subiríamos no domingo mesmo. Gastamos cerca de 400 pesos. Pelos nossos cálculos seria comida para seis dias. Mauro aproveitou que estava por ali mesmo e levou dois litros de cerveja argentina para experimentarmos no albergue. Depois de esvaziarmos as duas garrafas, meu corpo lembrou que a noite anterior foi de pouco sono, que passamos o dia inteiro batendo perna e que havia uma cama de verdade me aguardando no quarto. Apertei o botão de desliga atrás da nuca e apaguei.

Gente del Sur

Tive que levar o menino pra tomar sorvete 🙂

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